História da Arte
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Mesopotâmias
Diferente
do que ocorrer no Egito, em que pouco se alterara a formação populacional, ao longo
da sua história, o espaço formado pela
Mesopotâmia, terras altas da Assíria e vastos espaços da Pérsia mostraram
grande variação de populações e influências. Porém, houve uma heterogeneidade
não tão acentuada que não permitisse a identificação de uma civilização.
Os
tempos mais antigos trabalháveis por nós remontam aos V e IV milênios aC. Nestes,
motivos retilíneos ou quebrados apontavam para uma concepção racionalizante.
Esta, porém, logo foi substituída e elementos curvilíneos inundavam as pinturas
cerâmicas. As divindades estavam basicamente relacionadas a deusas-mães. O todo
indicava uma tendência emocionalista nas expressões. E foi esta maneira que, a
partir do meado do IV milênio aC, manifestou-se fortemente na Suméria. Sua marca
maior foram os olhos bem arregalados e expressivos marcados nas estatuetas
denominadas “Orantes”.
Em
fins do III milênio aC, uma onda de geometrização estava ceifando o antigo expressivismo.
Era uma tendência racionalizante que chegava. Esta teve realce quando a invasão
dos acádes dominou a região.
Com
o domínio assírio, a partir de meado do II milênio aC, tal perspectiva se
afirmou. As imagens eram dominadas por retilineizações frias, num padrão
geometrizante. Os modos de expressão tornaram-se racionalistas. O maior símbolo
destes são os animais androcéfalos, geralmente guardiões de portais, com suas
asas retilíneas.
A
ascensão babilônica ainda relacionava tal expressão dominante, quando, após o
primeiro quarto do I milênio aC, os medo-persas impuseram-se. O momento
artístico mudou com eles. Formas mais curvilineas ganharam destaque. O animais
androcéfalos podem, mais uma vez, serem referenciais da nossa contemplação.
Neste novo passo, apresentavam ass encurvadas. Mas que mero detalhe
estilístico, eram a denúncia de tempos mais emocionais.
O Nilo leve
Do
V milênio aC, o Egito legou as denominadas deusas líticas. Suas formas
múltiplas evocam elementos de uma feminilidade que transita de manifestações basicamente
emocionais àquelas, já no IV milênio aC, com uma geometrização com inspiração de
cunho evidentemente racional.
Das
suas edificações mais antigas, restaram as sepulcrais, erigidas com material
rochoso. Afinal, para aquela civilização a morte era um passo para uma eternidade.
E, nesta, os seus restos deveriam ser resguardados para eventual uso futuro. As
mais antigas entidades sepulcrais maiores eram as mastabas. De forma paralelepipedal,
mostraram evolução para a presença de câmara, na qual os visitantes poderiam
abrigarem-se e apresentarem seus sacrifícios. Era a Sala de oferendas. Uma outra
estava presente, nas quais representações escultóricas do morto e de divindades
apareciam. Era a Sala do duplo. Um fosso relativamente profundo conduzia ao jazigo
final, onde estava o sarcófago.
O
crescimento desta estrutura conduziu a uma espécie de “somatório de mastabas”,
definindo a primeira pirâmide. Sua forma é tal que ficou conhecida como “pirâmide
escalariforme”. Relacionada ao faraó Djoser, está datada de 2630 a 2610 aC.
O
próximo passo foi a pirâmide de Snefru, datada de 2613 a 2589 aC. Já bem
diferente, apresenta lados lisos, com somente uma quebra de inclinação, daí ser
chamada “pirâmide quebrada”.
O
momento apical do tipo surgiu com as pirâmides de Gisé. Suas principais foram
as de Kuh-Fuh, de Men-Ká-Rá e de Kaef-Rá, elevadas de 2550 a 2510 aC.
A
presença desta evolução sugere mais que mero domínio de formas. É a verdadeira configuração
de uma concepção racionalizada da vida.
As
esculturas seguiram a mesma proposta. As representações dos faraós são muito
rígidas formais, distantes. A linearidade de traços é marcante. O mesmo se
segue para os demais retratados. Um exemplo conhecido é o do “Escriba sentado”,
de 2620 – 2500 aC. Sua posição é formal, assim como a expressão da obra como um
todo. Representações de casais marcam pela proporção hierarquizada. Mostram a
importância social de cada um das famílias. As feições são distantes e o
naturalismo cede completamente a uma visão idealizada, Não estando relacionada
a dificuldades técnicas para se conseguir outro resultado, as esculturas
fornecem um excelente parâmetro para a dominação de uma concepção racionalista.
As
representações bidimensionais, fossem e pinturas ou relevos baixos, eram
dominadas pela Lei da Frontalidade. Transgredi-la era praticamente um atentado
contra a religião. Suas expressões hieráticas eram completamente limadas de
qualquer manifestação de caráter emocional.
Esta
perspectiva somente seria interrompida com a ascensão do faraó Ikhn-Aton, o
qual implantou uma verdadeira revolução religiosa, em meado do século XIV aC. Esta
espalhou-se pelos costumes de toda a vida egípcia. Neste momento, livre das
amarras, a arte pode revelar o tanto de emoção que o momento comportou. As formas
corpóreas se avolumaram, relevaram. Pescoços alongaram-se. Olhos cresceram. Até
mesmo nas representações bidimensionais o impacto chegou. Rostos em posição
frontal surgiram.
Porém,
foi só uma primavera emocional. A morte do revolucionário faraó devolveu as
amarras aos padrões racionalizados. Fora só uma visita do que o Egito podia
ser.
Da pedra viestes
A
evolução, transitando pelo gênero Australopithecus e chegando ao gênero Homo, manifesta
em algumas espécies suas, teve, por acompanhamento, complexas modificações no
lidar com o em-torno. Do uso casual à percepção do utilitário e o chegar à Arte
foram passos, por certo, demorados.
A
evolução do instrumental passou, primeiramente, pelo acaso. O tomar aleatório
de um objeto próximo e a conquista, através dele, de um Objetivo, na deve ter
ficado impressa facilmente nas mentes dos primeiros bem-sucedidos. Porém, hoje
sabemos que a superfamília Hominoidea é uma via da Vida pródiga em aprender.
Idem em transmitir conhecimento.
Não
deve ter também custado muito para que um ancestral nosso percebesse que havia
um vínculo estreito entre a facilidade de se obter um dado objetivo como função
de se ter um certo objeto às mãos. Em outras palavras, se quer algo, precisa
ter um outro algo em mãos. Surgia, assim, a noção de instrumento.
Este
ponto foi inclusive referencial para a definição do nosso gênero Homo. Já fomos
definidos como “animais que usam instrumentos”. Descobrimos, então, que lontras
e abutres, dentre outros, também usam. Mudou-se a nossa definição para “animais
que fabricam instrumentos”. Percebeu-se que corvos e chimpanzés, dentre outros,
também fabricam. Sugeriu-se que nós, humanos, somos “animais que fabricam
instrumentos com senso de futuro”. Só para reconhecermos que chimpanzés, dentre
outros, também assim agem. Acabou-se enveredando, até, pela sugestão de que o
ser humano é um animal que produz Arte. Mais um vez, não nos vimo sozinhos
nesta.
Escreveu-se
muito sobre a “Idade da Pedra”. Esqueceu-se em igual tanto que esta também foi
a “Idade da Madeira” e “Idade da Palha”, que correram juntas e paralelas.
Seja
como for, aparentemente, a jornada começou com o gênero Australopithecus.
Chegou a gênero Homo. Foi uma trajetória da qual selecionamos os Homo habilis de
2,1 a 1,5 milhão de anos atrás, Homo ergaster de 1,8 a 1,3 milhão de anos
atrás, Homo erectus, de 1,8 milhão de anos atrás a 30 mil anos atrás, o Homo antecessor,
de 850 a 750 mil anos atrás, o Homo heidelbergensis, de 600 mil a 20 mil anos
trás, o Homo neanderthalensis, de 230 mil a 28 mil anos atrás e o Homo sapiens,
de 195 mil anos atrás até o presente.
Apesar
de estar relativamente claro que representantes do gênero Australopithecus
chegaram a usar instrumentos, não temos um percepção mais definitiva de que
chegaram a manufaturá-los. Os períodos líticos mais formalmente começaram com a
chegada do gênero Homo, há 2,1 milhões de anos. Adentrara-se o denominado
Paleolítico, dito informalmente Idade da Pedra Lascada ou Primeira Idade da
Pedra, uma divisão da Era Lítica. Foi marcado por um trato ainda muito
rudimentar do material, obtinha a parte mais importante dos seus instrumentos a
partir de lascas de pedra. Abandonava-se, portanto, o antigo uso in natura. Era
o denominado Paleolítico Inferior, Protolítico ou Arqueolítico.
O
surgimento do Homo sapiens trouxe consigo modificações no instrumental, fruto
de uma evolução técnica apreciável, no domínio do retoque. Surgia uma
compreensão da técnica de impactos apropriados em locais selecionados das
pedras. Esta modificação evolutiva do instrumental foi suficiente para que o
ser humano arcaico emergisse do Paleolítico Inferior, passando ao denominado
Paleolítico Médio.
Por
volta de 60.000 anos atrás, a observação do material lítico, em especial as
armas, mostrava o quanto havia o ser humano evoluído. As formas de uma faca, de
uma extremidade de lança ou de uma ponta de seta, mostravam tendência a um
esmero bem direcionado, apesar de não existirem ainda superfícies lisas. Havia
o ser humano desenvolvido a denominada Técnica de Retoques que possibilitava a
confecção de lâminas líticas bem mais afiadas. Adentrara a Humanidade o
denominado Paleolítico Superior, que algumas classificações antigas chamavam
Leptolítico.
Entre
12.000 e 7.000 anos atrás, a Humanidade mostrava modificações tais na sua
manufatura, que revelam estar esta adentrado um novo período. Os restos da
antiga talha grosseira estavam sendo perdidos, sendo um dos aspectos
diagnósticos da mudança a presença de instrumento cada vez mais elaborados, com
superfícies lisas, polidas. Era o fim da antigamente conhecida Pedra Lascada e
a chegada da informalmente denominada Pedra Polida, mais propriamente falando,
o Neolítico. Entretanto, como isso não se fez de um só golpe, mas com
gradações, pois a prática neolítica praticamente varria a paleolítica onde se
instalava, como um fenômeno que viária a se estender por milênios.
Evidenciava-se o instante transitório, que marcou o Mesolítico ou Epipaleolítico,
não considerável uma unidade periódica à parte, mas uma transição, decerto
rica, entre o Paleolítico e o Neolítico.
Entre
12.000 e 7.000 aC nos atrás o Neolítico disseminou-se pelo mundo, varrendo os
traços paleolíticos.
Nas
cavernas de Altamira, na Espanha, entre 16.500 e 14.500 anos atrás, e Lascaux,
na França, entre 14.000 e 12.000 anos atrás, proliferou uma expressão chamada
Pintura Parietal. É aceito que este modo de expressão tenha também surgido e
proliferado em outros espaços. Porém, estas duas são as ocorrências mais
marcantes que persistiram.
Sobre
serem figuras mágicas, objetivando caça, em Lascaux, contaram-se, nas pinturas,
57,10 % de cavalos, 16,60 % de bovinos, 16,30 % de cervos, 6,00 % de caprinos, 1,00
% de felinos, 0,30 % de ursos, 0,16 % de rinocerontes e 0,16 % de renas. Os restos
alimentares encontrados no sítio indicam 88,70 % de renas, 4,50 % de javalis, 4,50
% de cabritos, 2,40 % de lebres, 1,50 % de cervos e 0,80 % de cavalos.
Permanece,
portanto, a questão sobre seu significado.
Uma
primeira abordagem mais consistente, em relação à proposta de divisão entre
manifestações racionais e emocionais pode ser encontrada nas manifestações
escultóricas denominadas vênus esteatopígeas, vênus Paleolíticas ou
simplesmente vênus. As mais antigas encontradas têm idades entre 32.000 a 31.000
anos e 29.000 a 25.000 anos.
As
vênus que primam pela abundância de formas seriam manifestações emocionais,
logo dionisiacas. As que exibem configurações mais longilíneas ou geometrizadas
seriam racionais, daí apolíneas.
O
megalitismo foi uma expressão de lidar humano com grandes blocos rochosos. Suas
presenças parecem sinalizar para tentativas práticas de manipulação para
controle do em-torno. Seriam marcas de uma expressão mais racionalista, daí,
apolíneas.
Os
megalitos poderiam ser simples, como os Men-hires, blocos solitários
trabalhados, que chegaram a mais de 20 metros de altura, pesando quase 350 toneladas.
Outros megalitos simples foram o Lic-Haven, baseado em um bloco vertical e um
horizontal, e o Dol-Men, configurado como dois blocos verticais e um
horizontal, formando um trilito.
Outras
estruturas surgiram, com cobertura de blocos rochosos por areia e material
sedimentar mais fino, formando um monte artificial denominado “tumulus”. Se
nesta cobertura havia quantidade significativa de seixos e blocos, passa a ser
chamado “cairn”.
Grandes
unidades líticas, entendidas como de função defensiva foram a naveta, a nurhaga
e a talaia.
Uma
organização mais complexa de megalitos formou os “arranjos megalíticos”.
Destes,
um primeiro que chamou a atenção foram os alinhamentos de Carnac, na França.
Porém,
aquele exemplar que mais realça um sentido maior é o arranjo megalítico de
Stonehenge. Sua presença é evidência forte de função bem objetiva, realçando
uma característica apolínea.
Em nome de Deuses
A
trilha seguida pelo conhecimento parece, ás vezes, estreitar-se. Isto é a
antipodia do que deveria ser sua verdadeira realidade. Por vezes, na
perspectiva de melhor desenvolvermo-nos, devemos ampliar o espectro. Passa isto
até por uma verdadeira reconstrução do nosso Saber.
Não
se trata de abandonar o já, até a tão duras penas, localizado e entendido. Mas,
sim, reler. Afinal, a História, mais que um monte de datas e nomes exige
interpretações. Pra tal, podemos ter que, não abrindo mão dos fenômenos,
reformatarmos os nossos Olhares.
Friedrich
Wilhelm Nietzsche nasceu, em 1844, na vila de Röcken, dentro dos domínios do
município da cidade de Lützen, na região de Sachsen-Anhalt, em Deutschland,
nossa conhecida Alemanha.
Acabou
lembrando como um pensador dedicado a “Assuntos malditos”. Incomodou por virar
pelo avesso certas dimensões dadas às coisas até já muitos estabelecidas.
Em
1864, começou estudos em Teologia e Filologia clássica, na Universidade de
Bonn.
Em
1865, abandonou o desenvolvimento da Teologia, enquanto curso. Porém, esta
seguiria-o, enquanto sombra e facho de luz, por toda sua vida. Seus textos
borbulhavam, com mais ou menos vigor, mas não deixavam de mostrar considerável marca
desta.
Em
1869, assumiu a cadeira de Filologia Clássica na Universidade da Basiléia.
Entre
1870 e 1888, publicou 18 livros marcados por aquela que ficou lembrada como uma
“Filosofia a marteladas”, tal foi sua força e a impressão que causava.
Dentre
estes, em 1872, veio à luz o “Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der
Musik”. Em nossa prosa, “O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música”.
Dois
eixos centrais foram os deuses helênicos Diónisos e Apóllon.
Diónisos
(Διόνυσος) era um divindade relacionada a ciclos vitais, festejos, vinho,
esbanjamento, insânia, Teatro, ritos religiosos, multiplicidade. A intoxicação
por embriaguez era entendida como o veículo que fundia o bebedor com a deidade.
Era o Deus da mundanice, do viver as emoções com intensidade.
Apóllon
(Απόλλων) era identificado o Sol e a luz da Verdade, a consciência de erros, um
agente de purificação, símbolo da inspiração profética mais pura, de uma
inspiração artística mais elevada. Era o verdadeiro Líder das Musas. Um Deus
que oferecia proteção contra as forças malignas ou a cura das conseqüências
destas. Era um Deus da Beleza, da Perfeição, da Harmonia, do Equilíbrio. Era o
verdadeiro Deus da Razão.
De
um lado, estava aquilo que Nietzsche agregou sob uma única categoria e chamou
Dionisismo. Era o tenso, o desequilibrado, o arrebatador, o múltiplo, o
inconstante, o sentimental, o emocional, o sensual, da abundância, esbanjamento
e insaciedade, das esquisitices, do desequilíbrio, da dinâmica, da
descentralização, do desconforto. O Eu é o centro para o qual converge toda a
ação.
Do
outro lado estava aquilo que o mesmo pensador percebeu como unificável em uma outra
categoria, o Apolismo. Era o calmo, o equilibrado, o assentador, o uno, o
racional, domínio da leveza, da limpeza, da iluminação, da sobriedade, da
estabilidade, da centralização. Para o Eu nada converge, pois o centro para o
qual converge toda a ação é um lá ideal.
Neste
passo, Nietzsche enxergou um momento que chamou “pré-Socrático”, no qual o
domínio do Dionisismo era absoluto. A ação se concentrava no “Eu”. Assim se
orava, falava, cantava. A Arte habitava cada um. Podia-se dizer, sem estar em
erro: “Eu sou a Arte”.
No
momento outro, que Nietzsche chamou “Socrático’, houve um surrupio disto. O Apolismo
impôs-se. Tornamo-nos espectadores, sentados em plateias reais ou metafóricas
do existir. Outros oram, falam, cantam, respondem por nós. A arte “é lá”. Para
Nietzsche, isto caracterizava a morte da verdadeira Tragédia helênica.
Porém,
Nietzsche entendeu que “o deus Dionísio é demasiado poderoso: o mais inteligente
adversário”. Ele sobreviveu mal oculto. Segundo este estudioso, “O coro é uma
muralha viva contra a realidade assaltante, porque ele – o coro de sátiros –
retrata a existência de maneira mais veraz, mais real, mais completa do que o
homem civilizado, que comumente julga ser a única realidade”. A presença do
coro roubava ao ladrão a vitória.
Quando o coro ora,
responde, canta, fá-lo por cada um da plateia, por cada um de nós.
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