terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Em nome de Deuses



A trilha seguida pelo conhecimento parece, ás vezes, estreitar-se. Isto é a antipodia do que deveria ser sua verdadeira realidade. Por vezes, na perspectiva de melhor desenvolvermo-nos, devemos ampliar o espectro. Passa isto até por uma verdadeira reconstrução do nosso Saber.
Não se trata de abandonar o já, até a tão duras penas, localizado e entendido. Mas, sim, reler. Afinal, a História, mais que um monte de datas e nomes exige interpretações. Pra tal, podemos ter que, não abrindo mão dos fenômenos, reformatarmos os nossos Olhares.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu, em 1844, na vila de Röcken, dentro dos domínios do município da cidade de Lützen, na região de Sachsen-Anhalt, em Deutschland, nossa conhecida Alemanha.
Acabou lembrando como um pensador dedicado a “Assuntos malditos”. Incomodou por virar pelo avesso certas dimensões dadas às coisas até já muitos estabelecidas.
Em 1864, começou estudos em Teologia e Filologia clássica, na Universidade de Bonn.
Em 1865, abandonou o desenvolvimento da Teologia, enquanto curso. Porém, esta seguiria-o, enquanto sombra e facho de luz, por toda sua vida. Seus textos borbulhavam, com mais ou menos vigor, mas não deixavam de mostrar considerável marca desta.
Em 1869, assumiu a cadeira de Filologia Clássica na Universidade da Basiléia.
Entre 1870 e 1888, publicou 18 livros marcados por aquela que ficou lembrada como uma “Filosofia a marteladas”, tal foi sua força e a impressão que causava.
Dentre estes, em 1872, veio à luz o “Die Geburt der Tragödie aus dem Geiste der Musik”. Em nossa prosa, “O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música”.
Dois eixos centrais foram os deuses helênicos Diónisos e Apóllon.
Diónisos (Διόνυσος) era um divindade relacionada a ciclos vitais, festejos, vinho, esbanjamento, insânia, Teatro, ritos religiosos, multiplicidade. A intoxicação por embriaguez era entendida como o veículo que fundia o bebedor com a deidade. Era o Deus da mundanice, do viver as emoções com intensidade.
Apóllon (Απόλλων) era identificado o Sol e a luz da Verdade, a consciência de erros, um agente de purificação, símbolo da inspiração profética mais pura, de uma inspiração artística mais elevada. Era o verdadeiro Líder das Musas. Um Deus que oferecia proteção contra as forças malignas ou a cura das conseqüências destas. Era um Deus da Beleza, da Perfeição, da Harmonia, do Equilíbrio. Era o verdadeiro Deus da Razão.
De um lado, estava aquilo que Nietzsche agregou sob uma única categoria e chamou Dionisismo. Era o tenso, o desequilibrado, o arrebatador, o múltiplo, o inconstante, o sentimental, o emocional, o sensual, da abundância, esbanjamento e insaciedade, das esquisitices, do desequilíbrio, da dinâmica, da descentralização, do desconforto. O Eu é o centro para o qual converge toda a ação.
Do outro lado estava aquilo que o mesmo pensador percebeu como unificável em uma outra categoria, o Apolismo. Era o calmo, o equilibrado, o assentador, o uno, o racional, domínio da leveza, da limpeza, da iluminação, da sobriedade, da estabilidade, da centralização. Para o Eu nada converge, pois o centro para o qual converge toda a ação é um lá ideal.
Neste passo, Nietzsche enxergou um momento que chamou “pré-Socrático”, no qual o domínio do Dionisismo era absoluto. A ação se concentrava no “Eu”. Assim se orava, falava, cantava. A Arte habitava cada um. Podia-se dizer, sem estar em erro: “Eu sou a Arte”.
No momento outro, que Nietzsche chamou “Socrático’, houve um surrupio disto. O Apolismo impôs-se. Tornamo-nos espectadores, sentados em plateias reais ou metafóricas do existir. Outros oram, falam, cantam, respondem por nós. A arte “é lá”. Para Nietzsche, isto caracterizava a morte da verdadeira Tragédia helênica.
Porém, Nietzsche entendeu que “o deus Dionísio é demasiado poderoso: o mais inteligente adversário”. Ele sobreviveu mal oculto. Segundo este estudioso, “O coro é uma muralha viva contra a realidade assaltante, porque ele – o coro de sátiros – retrata a existência de maneira mais veraz, mais real, mais completa do que o homem civilizado, que comumente julga ser a única realidade”. A presença do coro roubava ao ladrão a vitória.
Quando o coro ora, responde, canta, fá-lo por cada um da plateia, por cada um de nós.

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