Do
V milênio aC, o Egito legou as denominadas deusas líticas. Suas formas
múltiplas evocam elementos de uma feminilidade que transita de manifestações basicamente
emocionais àquelas, já no IV milênio aC, com uma geometrização com inspiração de
cunho evidentemente racional.
Das
suas edificações mais antigas, restaram as sepulcrais, erigidas com material
rochoso. Afinal, para aquela civilização a morte era um passo para uma eternidade.
E, nesta, os seus restos deveriam ser resguardados para eventual uso futuro. As
mais antigas entidades sepulcrais maiores eram as mastabas. De forma paralelepipedal,
mostraram evolução para a presença de câmara, na qual os visitantes poderiam
abrigarem-se e apresentarem seus sacrifícios. Era a Sala de oferendas. Uma outra
estava presente, nas quais representações escultóricas do morto e de divindades
apareciam. Era a Sala do duplo. Um fosso relativamente profundo conduzia ao jazigo
final, onde estava o sarcófago.
O
crescimento desta estrutura conduziu a uma espécie de “somatório de mastabas”,
definindo a primeira pirâmide. Sua forma é tal que ficou conhecida como “pirâmide
escalariforme”. Relacionada ao faraó Djoser, está datada de 2630 a 2610 aC.
O
próximo passo foi a pirâmide de Snefru, datada de 2613 a 2589 aC. Já bem
diferente, apresenta lados lisos, com somente uma quebra de inclinação, daí ser
chamada “pirâmide quebrada”.
O
momento apical do tipo surgiu com as pirâmides de Gisé. Suas principais foram
as de Kuh-Fuh, de Men-Ká-Rá e de Kaef-Rá, elevadas de 2550 a 2510 aC.
A
presença desta evolução sugere mais que mero domínio de formas. É a verdadeira configuração
de uma concepção racionalizada da vida.
As
esculturas seguiram a mesma proposta. As representações dos faraós são muito
rígidas formais, distantes. A linearidade de traços é marcante. O mesmo se
segue para os demais retratados. Um exemplo conhecido é o do “Escriba sentado”,
de 2620 – 2500 aC. Sua posição é formal, assim como a expressão da obra como um
todo. Representações de casais marcam pela proporção hierarquizada. Mostram a
importância social de cada um das famílias. As feições são distantes e o
naturalismo cede completamente a uma visão idealizada, Não estando relacionada
a dificuldades técnicas para se conseguir outro resultado, as esculturas
fornecem um excelente parâmetro para a dominação de uma concepção racionalista.
As
representações bidimensionais, fossem e pinturas ou relevos baixos, eram
dominadas pela Lei da Frontalidade. Transgredi-la era praticamente um atentado
contra a religião. Suas expressões hieráticas eram completamente limadas de
qualquer manifestação de caráter emocional.
Esta
perspectiva somente seria interrompida com a ascensão do faraó Ikhn-Aton, o
qual implantou uma verdadeira revolução religiosa, em meado do século XIV aC. Esta
espalhou-se pelos costumes de toda a vida egípcia. Neste momento, livre das
amarras, a arte pode revelar o tanto de emoção que o momento comportou. As formas
corpóreas se avolumaram, relevaram. Pescoços alongaram-se. Olhos cresceram. Até
mesmo nas representações bidimensionais o impacto chegou. Rostos em posição
frontal surgiram.
Porém,
foi só uma primavera emocional. A morte do revolucionário faraó devolveu as
amarras aos padrões racionalizados. Fora só uma visita do que o Egito podia
ser.
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